Uma impiedosa onda de demissões está atingindo grandes empresas de tecnologia mundo afora e, nos últimos meses, com mais vigor, está carregando até unicórnios brasileiros para a mesma crista. Não é o tipo de coisa que muitos de vocês querem ler, não é mesmo? Mas para quê enfiar a cabeça num buraco como fazem as avestruzes? É melhor ficar de olhos bem atentos para o que está por vir. Entenda o cenário, o que dizem as startups, os investidores e os principais: os ex-funcionários
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Não. Não estamos falando de uma crise generalizada. A tecnologia permanece como um dos pilares da economia global. Para uma onda devastar o setor, é preciso que simplesmente os mercados tradicionais, de forma utópica, voltem a andar sozinhos. Impossível. Tudo está interligado. Economia tradicional e tecnologia.
Mas e essa temporada de demissões?
Algo preocupante? Sim, mas é algo natural. Empresas que cresceram de maneira vertiginosa durante a pandemia encontram-se agora numa maré bem mais calma. Ou seja, o que estamos vendo é um equilíbrio das coisas.
Opinião: Alguns olhos atentos puderam observar que certas empresas, em vez de encarar a onda há alguns meses, optaram por apostar em mais crescimento, contratações, novos recursos e publipost otimistas... Tudo isso para manter os investimentos em casa. Não adiantou.
Mudanças aconteceram. Simbolicamente começou com a Apple deixando de ser a empresa mais valiosa do mundo, dando lugar a tradicional Saudi Aramco, uma gigante petrolífera, como o nome sugere, das arábias. A virada preocupou investidores de tecnologia e fez vir a tona o que já estava previsto.
Não apenas por isso, mas por um conjunto de fatores, há algum tempo, startups globais e brasileiras começaram a anunciar a infeliz sequência de demissões.
Lá fora:
Cameo e On Deck ambos demitiram 25% de seus funcionários
MainStreet demitiu 30%
Robinhood cortou 9% de seus funcionários em tempo integral
No Brasil:
A Vtex cortou 193 pessoas, hoje, 27 de maio
Em abril, QuintoAndar demitu 20% dos funcionários
A Zak, de gestão de restaurantes, desligou 40% do quadro de funcionários, mesmo superando o valor de mercado de 1 Bi
A Loft demitiu 159 funcionários e realocou outros 52 para reorganizar a própria área de crédito
E a Olist amargou 150 profissionais, mas rechaçou crise na companhia
É claro, não podemos analisar esses números de forma geral. Mas as demissões nessas empresas são um ótimo lugar para começar a procurar respostas. Elas são super alavancadas (rentáveis e financiadas por empresas de VC) e isso significa que quando as coisas ficam turbulentas, os investidores sentem primeiro, aí seus cartões de crédito ilimitados são retirados.
Empresas que inflaram seus caixas durante a pandemia (observe: todas as brasileiras listadas acima), oferecendo soluções convenientes para a época, agora experimentam o gosto ruim da estagnação. Ou seja, não vão crescer mais ou vão crescer pouco. Algumas inclusive nem uma coisa nem outra (preocupante). O problema é que para investidores parar de crescer é o mesmo que vou cair fora. E nesse caso, para manter o dinheiro no caixa, o jeito é: cortar gastos (pessoas).
Qual é a lição que fica? Certamente palestrantes de sucesso saberão romanticamente contar.
Afinal, o que vem por aí?
A tecnologia vai encontrar um lugar para respirar tranquila? A corrida pelo sucesso volta a se democratizar? Tem lugar ao sol para todos. Sempre teve. Os olhos de quem investiu e lucrou vão se virar para negócios mais preparados para o pós 2019-2020-2021-2022.
O que diz um CEO?
“Contratamos conforme o planejamento organizacional. Os cenários nacionais e globais vão mudando e, automaticamente, projetos vão sendo repriorizados”, Diego Dzodan, CEO da Facily. A empresa demitiu mais de mil pessoas.
O que diz um especialista?
Thomaz Martins, coordenador do centro de empreendedorismo do Insper, explica que a expansão costuma ser a regra para esse mercado, e não o encolhimento.
“É normal as startups estarem sempre com muitas vagas abertas. Afinal, os investidores querem que elas cresçam o mais rápido possível para oferecerem um grande retorno sobre o investimento inicial”, disse para a Forbes. Tentando explicar que o setor tem muitos cargos e também muitas demissões.
O que diz um funcionário demitido?
“Hoje, encerrei um ciclo na Vtex, junto com diversos outros colegas. Um lay-off inesperado dado o crescimento do e-commerce nos últimos anos e também da Vtex, que nos últimos dois anos teve IPO e tantas outras conquistas”, afirma um ex-funcionário na plataforma de networking Vtex. Otimista. A matéria em questão, da Seu Dinheiro, parecia considerar muito mais o ponto de vista da empresa.
Vtex em nota:
“Hoje, anunciamos uma nova etapa em nosso ciclo de expansão eficiente. Este passo vem com decisões difíceis, que impactam diretamente 193 profissionais. Valorizamos muito nossa equipe excepcional, apreciamos profundamente e agradecemos a todos por seu compromisso e trabalho duro. No geral, a decisão de deixar as pessoas irem não foi especificamente sobre o potencial ou o desempenho de cada indivíduo. A decisão de reduzir nossa força de trabalho foi tomada como um julgamento estratégico sobre qual estrutura organizacional pode entregar nossas prioridades ajustadas e alinhadas a esse ciclo orientado a crescimento com eficiência"
E o que um investidor está achando disso tudo?
Essa é a opinião que entendemos ser a mais coerente:
"Essas companhias não vão conseguir levantar novas quantias enormes de dinheiro em futuras rodadas, porque a janela de captação está mais difícil. E aí as startups precisam fazer ajustes para passar pela tempestade com dinheiro no caixa", disse ao Estadão Amure Pinho, cofundador da plataforma Investidores.vc.
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