Enquanto a prefeitura de Belém e o governo do estado balançam timidamente a bandeira do meio ambiente a iniciativa privada caminha para a migração em cadeia
Segundo levantamento feito pelo instituto Imazon, Belém, assim como outras capitais brasileiras, apresenta falhas estruturais gravíssimas relacionadas a preservação do meio ambiente. Fatores como saneamento básico precário, transporte público de baixa qualidade, escassez de áreas de lazer, violência crescente e elevada taxa de desemprego, contribuem para o crescimento descoordenado da cidade que está entre as 13 mais populosas do país - uma ameaça para os rios e florestas do entorno.
Segundo o programa Cidades Sustentáveis, realizado pela CITinova, uma pesquisa que mede o índice de desenvolvimento sustentável das cidades brasileiras, aponta que Belém está em terceiro lugar, entre as capitais que estão longe de atingir os ODS (17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela Organização das Nações Unidas em 2015).
Os ODS envolvem temáticas diversificadas como erradicação da pobreza, segurança alimentar e agricultura, saúde, educação, igualdade de gênero, redução das desigualdades, energia, água e saneamento, padrões sustentáveis de produção e de consumo, mudança do clima, cidades sustentáveis, proteção e uso sustentável dos oceanos e dos ecossistemas terrestres, crescimento econômico inclusivo, infraestrutura e industrialização, governança, e meios de implementação.
Belém está com apenas 46,74% dos objetivos alcançados (último relatório: abril/2021), ilustrando ao lado de Porto Velho (46,13%) em segundo, e Macapá (43,35%) em primeiro lugar, o pódio das capitais menos sustentáveis do Brasil.
Fora as capitais, o ranking de cidades menos sustentáveis do país tem Moju e Igarapé-Miri, ambas no interior do estado, em primeiro e segundo lugar geral.
Semana do Meio Ambiente e suas atividades governamentais paliativas
No próximo dia 01 (terça), inicia-se em todo o país a Semana do Meio Ambiente. Dia 3 (quinta) será o Dia Nacional da Educação Ambiental. E dia 05 (sábado) comemora-se o Dia Mundial do Meio Ambiente. Entre esses dias também se “comemora” o Dia da Reciclagem (Belém gera em torno de 200 toneladas de plástico por dia, desse volume, apenas 2,8% é aproveitado).
Nos próximos dias, muita mídia será feita em torno desse assunto. Mas ao analisar os dados anteriormente mencionados, fica difícil acreditar que algo realmente esteja sendo feito e se este tema é de fato uma bandeira das atuais gestões. Talvez não seja um tema popular, politicamente falando.
Se elevarmos o patamar para nível nacional, é comumente sabido que a questão não é uma pauta relevante para o governo federal. O próprio ministro do meio ambiente é alvo de investigação por facilitar o contrabando de madeira no sudeste do estado.
“Ministro do Meio Ambiente está em risco de auto extinção”, é o que diz o site GZH. “Ausência de Ricardo Salles em reunião sobre desmatamento na Amazônia, às vésperas da ‘temporada de queimadas’ carimba passaporte de saída da Esplanada”, inicia a matéria. Não precisamos falar mais nada.
A iniciativa privada e a tendência dos negócios sustentáveis
Sem levar em consideração a política do troca-troca que se enraizou entre governo e grandes empresas, do tipo que concede incentivos fiscais em troca de ações que visam proteger o meio ambiente (comerciais publicitários) - tal como a gigante Vale sabe muito bem se beneficiar, existem iniciativas privadas que podem fazer a diferença, mesmo que o impacto inicial seja mínimo.
Os negócios sustentáveis são tendência mundo afora. Algumas empresas e novos empreendedores vêm abrindo lentamente os olhos para este mercado. Belém, cidade que tem um potencial gigantesco de se tornar referência devido a sua localização estratégica, um polo concentrado de novas ideias de negócios sustentáveis, necessita que a gestão pública se capacite tecnológica e estruturalmente, para acompanhar esse progresso – ou perderá grandes oportunidades e verá suas ideias serem exportadas a preço de matéria prima para o sudeste do país e até mesmo para outros países. Tememos que isso já esteja acontecendo.
Belém acordou. A iniciativa privada é a saída mais econômica e inteligente para promover a cultura da sustentabilidade.
A cidade possui o PCT Guamá (Parque de Ciência e Tecnologia Guamá), fundação pública de pesquisa, vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica e, administrada pela Fundação de Ciência e Tecnologia Guamá. Tem também a Embrapa, empresa que está desenvolvendo o primeiro programa de inovação aberta, para se envolver estrategicamente com cooperativas e startups, através de parcerias associativas, com a intenção de desenvolver novas tecnologias.
Eventos de nível internacional
Belém receberá em outubro de 2021 o Fórum Mundial de Bioeconomia, maior evento sobre bioeconomia do mundo, que terá a participação de palestrantes que são líderes no assunto. Será a primeira vez que acontecerá fora da Finlândia.
E por fim (não menos importante), tem as pequenas empresas que estão se aventurando em criar soluções criativas, novas tecnologias, produtos e serviços, com a premissa de serem negócios inteligentes e sustentáveis. É o caso das empresas que vamos falar a seguir.
Todas elas têm uma coisa em comum: não querem agredir o meio ambiente. 8 empresas de Belém que estão contribuindo para a preservação do meio ambiente:
1. Seixo de Plástico
A Seixo de Plástico é uma das empresas residentes do PCT Guamá, Parque de Ciência e Tecnologia mantido pelo Governo do Pará. A startup paraense desenvolveu uma metodologia própria para produzir tijolos, broquetes, tubos, blocos com e sem função estrutural, telhas, entre outros produtos comumente derivados do concreto, a partir do reaproveitamento de diferentes resíduos sólidos, em especial plásticos e vidros.
2. Construtora Athenas
A tradicional construtora de condomínios residenciais de Belém está lançando um empreendimento inteligente, O Athenas Future, que será abastecido totalmente por energia solar e vai contar com pontos de carga para carros elétricos. Dois conceitos em um, condomínios ecologicamente corretos e adaptados para a indústria automotiva do futuro.
3. Eco delivery
Oscar e Waxell são dois jovens empreendedores belenenses que lançaram a Eco Delivery, uma empresa de entregas sustentáveis feitas somente por pessoas LGBT.
A ideia surgiu durante a pandemia, diante da necessidade de reinventar a vivencia do casal, aproveitando o meio de transporte que utilizam, como bikes e bicicletas elétricas.
4. Amachains
Selecionada para co-desenvolver parceria com a Embrapa Amazônia Oriental, startup especializada no uso da Blockchain com compliance para cadeias produtivas. A rastreabilidade de produtos é uma das maiores demandas nos mercados internacionais. Com a ferramenta é possível disponibilizar essa rastreabilidade online para todos os atores de uma cadeia produtiva e para o consumidor final.
5. Loja do Manga
Sendo biodegradáveis ou não as sacolas feitas de plástico têm a principal desvantagem de serem descartáveis e, na maioria das vezes, são descartadas de maneira inadequada pela população.
As ecobags sacolas geralmente feitas de pano ou de materiais reciclados, são soluções econômicas e criativas. Além de possuírem um design ergonômico, são reutilizáveis e funcionais.
6. FlyTour
A empresa de viagens e serviços adota práticas sustentáveis alinhadas às metas da Agenda 2030 da ONU – Organização das Nações Unidas. Isso quer dizer que, além de entender a amplitude e alcance de ações sustentáveis, tem uma política com diretrizes muito bem definidas que orientam as relações humanas e empresariais com o meio ambiente.
7. Idee
A empresa permite contato mais direto com ações sustentáveis. Isso propicia aquisição de experiência na aplicação de planos de comunicação com itens de sustentabilidade. Cria e implementa projetos de comunicação para divulgação e consolidação das ações sustentáveis de empresas e do setor público.
8. Unama
A instituição tem um programa de aceleração de negócios sustentáveis. O objetivo é pré-acelerar propostas de serviços e produtos baseados em ideias, protótipos e/ou negócios na área rural, nas cadeias produtivas prioritárias do açaí, cacau, turismo, pesca, entre outros.
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