A startup paraense produz um mix com 14 ingredientes da floresta que funciona como uma refeição saudável e ainda nutre a economia amazônica
Você sabe o que é meal replacement? É um tipo de suplemento alimentar concentrado, geralmente em pó, para o preparo de bebida ou sopa, que, como o nome sugere, pode substituir ou complementar refeições, com o foco na saúde integral de quem está consumindo.
Se você ainda acha que isso é só comida de astronauta, deveria saber que esse é um mercado global que alcançou US$ 12 bilhões em 2022, com expectativa de chegar a U$S 16 bilhões em 2028, segundo um levantamento feito este ano pela Market Data Forecast. Dona da maior biodiversidade e diversidade cultural do planeta, a Amazônia é um terreno fértil de super alimentos, que são ótimas bases para esse tipo de suplemento.
Uma empresa, sediada em Altamira (PA), está investindo nesse nicho e produzindo alimentos funcionais com insumos do extrativismo sustentável, unindo ciência e os saberes tradicionais de quem mais sabe conservar a floresta, pois trabalha junto com as povos tradicionais e originários que vivem em regiões como a Terra do Meio, situada entre os rios Xingu e Tapajós, com 9 milhões de hectares da floresta amazônica em pé, um de seus parceiros estratégicos. A startup Mazô Maná propõe um modelo de negócio sustentável, com foco nos mercados local, nacional e exportação. Seu primeiro produto é um suplemento alimentar que leva 14 ingredientes amazônicos.
"Ao olhar o mapa de desmatamento na Amazônia, é fácil perceber que onde tem população tradicional tem floresta em pé!”, afirma um dos fundadores da startup, Marcelo Salazar. “ Por isso, a motivação da Mazô Maná é inovar na geração de valor para floresta e seus povos, seja pelo desenvolvimento de formulações para multi ingredientes amazônicos, sempre que possível processados nas comunidades, ou pela busca de mecanismos adicionais aos produtos para valorização do papel de conservação da mata e rios que os povos tradicionais exercem com seus modos de vida. Por aqui, acreditamos que o futuro da Amazônia está na diversidade socioambiental, numa economia do conhecimento, que valoriza e remunera a floresta em pé", completa.
A iniciativa traz no modelo novas oportunidades de renda para além da compra de ingredientes. Os produtos são desenvolvidos em parceria com comunidades locais como o Rio Novo, na Resex do Rio Iriri, um dos integrantes da Rede Terra do Meio e com nutricionistas, engenheiros, biólogos e arqueólogos que fazem parte da rede que a Mazô mobiliza.
Além de comprar os ingredientes, a startup está ajudando a rede a agregar valor em seus produtos com desenvolvimento de tecnologias de beneficiamento, como um desidratador de frutas e castanhas, com dupla alimentação de energia solar (aquecimento e fotovoltaica), em parceria com outras empresas e organizações da sociedade civil.
O modelo de negócio conta ainda com o desenvolvimento de um braço de serviços, voltado a empresas e outras organizações com interesse no desenvolvimento de projetos nas mesmas regiões em que a Mazô já possui parcerias de fornecimento de ingredientes. É uma forma de criar mecanismos que geram receita e fortalecem o modo de vida dos povos tradicionais e suas organizações, além de manter a floresta de pé.
Os principais focos estão no desenho de projetos de Pagamento por Serviços Socioambientais (PSSA), créditos de carbono de alta integridade e “nature positive”, contribuindo com empresas, associações comunitárias, ONGs e governos com diagnósticos, apoio no processos de consulta a comunidades, projetos de intervenção nos territórios, desenho e monitoramento de indicadores — com foco nas boas práticas de ESG para empresas e em projetos que contribuam com os Planos de Vida das comunidades.
Alinhada diretamente com três Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) — fome zero e agricultura sustentável, trabalho decente e crescimento econômico e consumo e produção responsáveis —, a Mazô Maná, é uma das empresas selecionadas para ser acelerada pela AMAZ em 2023. Justamente por esse trabalho inovador, a Mazô Maná foi um dos cinco negócios escolhidos pela AMAZ, uma aceleradora de startups da Amazônia, para receber investimento em 2023.
As outras startups selecionadas foram: Ekilibre, Simbiótica Finance, Manawara e Cumbaru, todas soluções baseadas na riqueza da biodiversidade da região. Em fase de lançamento do primeiro produto e com um pré-seed de R$ 2,3 mi, o negócio da Mazô busca ser modelo para combater a emergência climática, mas também para tornar mais acessível uma alimentação balanceada e saudável para o consumidor final.
Os brasileiros estão interessados nisso. Segundo o Instituto Akatu e a GlobeScan 2021, nossa população quer ter um estilo de vida mais saudável e sustentável. Pelo menos 50% dos ouvidos por uma pesquisa feita por eles, se dizem dispostos a pagar mais por produtos ou marcas sustentáveis. A comida do futuro vai ter que se adaptar para atender a um público cada vez mais exigente e consciente. Iniciativas como a Mazô Maná mostram o caminho.
EXAME
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