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Foto do escritorRodrigo Souza

Segundo fontes da PF, mais de 90% da madeira saída da Amazônia são clandestinas

Após documentos serem adulterados, a madeira tem como destino portos mundo afora. Polícia Federal estima que 90% da madeira extraída da Amazônia tenha origem ilegal

Segundo fontes da PF, mais de 90% da madeira saída da Amazônia são clandestinas
Destino da madeira continua sendo dos países que mais pedem pela preservação da Amazônia (Imagem Unsplash)

O alerta que um carregamento de madeira brasileira havia sido apreendido em um porto estrangeiro veio dos EUA, mas poderia ser Alemanha, Inglaterra, Holanda, Bélgica, China, Tailândia ou México. De acordo com investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, esses são alguns dos destinos do produto extraído da Região Amazônica - resultado de um esquema sofisticado e financiado por grandes volumes de investimentos.


Membros da PF ouvidos pelo Estadão estimam que cerca de 90% de toda madeira retirada desse bioma seja ilegal. O porcentual é quase o mesmo de uma pesquisa deste ano do Instituto Centro de Vida (ICV) que mostra que 94% da área desmatada na Amazônia e no Cerrado até o segundo semestre de 2020 ocorreu à margem da lei.


Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o desmatamento na Amazônia Legal em maio foi o maior registrado desde 2016. Pressionada pelo avanço das atividades agropecuárias, a destruição da floresta teve seu terceiro mês seguido de recorde.


A extração clandestina de madeira tem todas as características de grandes empreendimentos, muitas vezes com o aporte de dinheiro transnacional. A situação chegou ao ponto de o próprio ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ser oficialmente investigado por suposta tentativa de liberar um carregamento apreendido. Além disso, o presidente do Ibama, Eduardo Bim, foi afastado do cargo.


"O problema é que temos um nível de ilegalidade que já passou de preocupante", diz Rômulo Batista, da campanha Amazônia do Greenpeace. Esse é um processo contínuo e caro. "Depois da retirada do filé mignon (as espécies mais valiosas, como o ipê), o caminho fica aberto para grilagem e mineração."

Nenhum carregamento de madeira pode ser armazenado ou transitar pelo país sem o Documento de Origem Florestal (DOF). É aí que começa a fraude. Desde 2011, a emissão dessa licença passou para os Estados. Nela devem constar informações sobre as espécies, tipo do material, volume, valor do carregamento, placa do veículo, origem, destino, além da rota detalhada do transporte.


A Operação Arquimedes, deflagrada pela PF em 2017, apontou como essa exigência pode ser contornada. Para "esquentar" a madeira extraída irregularmente, madeireiros atuam com servidores públicos que incluem as informações da madeira no sistema nacional, gerenciado pelo Ibama, em troca de propina.


Os servidores informam o volume, o tipo e o local do corte da madeira, usando dados de outras áreas que possuem, de fato, autorização para o corte. Essas autorizações são os "créditos florestais".


Assim, com os créditos emitidos para uma área, o esquema "esquenta" a madeira cortada ilegalmente em outra. Só nos primeiros dias dessa operação, 479 contêineres de madeira de 63 empresas foram apreendidos no Porto Chibatão, em Manaus.


Segundo a PF, o volume - cerca de 10 mil metros cúbicos, se fosse enfileirado, cobriria a distância de 1,5 mil quilômetros, equivalente à distância entre Brasília e Belém.


O carregamento seria destinado a outros Estados e exportação para América do Norte, Ásia e Europa. Daí em diante, a madeira só pode ser vista nas grandes lojas e em fornecedores no exterior.


Segundo fontes da PF, mais de 90% da madeira saída da Amazônia são clandestinas
Lojas sofisticadas dos EUA exibem madeira bruta do Brasil como opção de revestimento de piso

A busca por termos como "brazilian hardwood flooring" (piso de madeira dura brasileira, na tradução livre) nos sites de algumas delas, como no da rede americana Lumber Liquidators, mostra onde vai parar esse produto. A empresa já foi condenada pela Justiça por importar madeira ilegal.


Fonte: Jornal O Estadão


 


Enquanto a prefeitura de Belém e o governo do estado balançam timidamente a bandeira do meio ambiente os negócios sustentáveis caminham para a migração em cadeia.



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