Apesar de avanços, região ainda enfrenta resistência e dificuldades para se destacar em rankings nacionais de melhores empresas para trabalhar
A avaliação do ambiente de trabalho nas empresas brasileiras tem ganhado cada vez mais destaque, especialmente com a atuação da consultoria GPTW (Great Place to Work), que há 40 anos analisa e certifica empresas em 170 países. No Brasil, mais de cinco mil empresas participam anualmente dessa avaliação, mas apenas 3,5% delas conseguem atingir as notas mais altas, acima de 70 em uma escala que vai de -100 a 100. Essas empresas, que alcançam médias entre 90 e 90,4, são consideradas as melhores em seus setores e servem como referência para práticas de gestão, inovação e valorização dos colaboradores.
No entanto, enquanto regiões como Sudeste, Sul e Nordeste concentram a maioria das empresas certificadas, o Norte do Brasil ainda enfrenta desafios significativos para se destacar nesse cenário. De acordo com Gisele Maraschin, psicóloga e partner da GPTW, ouvida pela Belém Negócios, a região tem um potencial enorme, mas precisa superar obstáculos estruturais e culturais para melhorar sua participação nos rankings.
Desafios regionais
A região Norte possui um volume de organizações que, embora relevante, ainda é considerado menos desenvolvido em comparação com outras partes do país.
"Aqui, temos grandes empresas certificadas, como Vale, Magazine Luiza e Sicredi, mas elas aparecem nas avaliações como parte das regiões onde estão suas sedes, geralmente no Sudeste", explica Maraschin.
Isso significa que, embora essas empresas tenham operações no Norte, sua certificação não é contabilizada para a região. Além disso, as pequenas e médias empresas locais enfrentam resistência em investir na certificação.
"Muitas empresas ainda veem o custo da avaliação como um obstáculo e têm dúvidas sobre o retorno desse investimento. É uma questão cultural: o tema ainda não é tão difundido aqui quanto no Sudeste ou no Nordeste", comenta a psicóloga.
Desenvolvimento da cultura organizacional
Para Maraschin, o grande desafio das empresas do Norte é desenvolver uma cultura organizacional sólida, baseada em valores como credibilidade, respeito, imparcialidade, orgulho e camaradagem.
"A liderança tem um papel fundamental nesse processo. É preciso que os gestores sejam exemplos de comunicação transparente, apoio ao desenvolvimento dos colaboradores e tratamento equitativo", destaca.
A psicóloga também ressalta a importância de criar um ambiente onde os colaboradores se sintam valorizados e orgulhosos do trabalho que realizam.
"Isso inclui reconhecer boas ideias, promover a participação nas decisões e garantir que as pessoas se sintam parte de uma equipe coesa e amigável", explica.
Oportunidades de mudança
Apesar dos desafios, Maraschin acredita que a região Norte está passando por um momento de transformação. Eventos como a COP 30, que será sediada em Belém, estão trazendo mais visibilidade e investimentos para a região.
"A COP está ajudando a mudar a percepção das empresas. Há um movimento para melhorar a imagem da cidade e das organizações, o que pode impulsionar a adoção de práticas mais modernas de gestão", afirma.
Além disso, a pandemia de COVID-19 e a recente atualização da NR-01, que reforça a necessidade de as empresas lidarem com riscos psicossociais, estão pressionando as organizações a priorizar o bem-estar dos colaboradores.
"A saúde mental e a qualidade de vida no trabalho nunca foram tão importantes. As empresas que não se adaptarem a essas demandas podem enfrentar multas e perder talentos", alerta Maraschin.
Confira a seguir o ranking das melhores empresas (grande, médio e pequeno porte) para se trabalhar na região Norte
Perspectivas para o futuro
Enquanto o Nordeste conta com cerca de 15 partners da GPTW, o Norte ainda está em fase inicial, com apenas quatro partners . No entanto, Maraschin vê um cenário promissor para os próximos anos.
"Acredito que 2025 será um marco para a região. Com mais investimentos e conscientização, as empresas do Norte têm tudo para se tornarem referências em ambiente de trabalho", conclui.
A região Norte do Brasil tem um longo caminho a percorrer para se igualar a outras partes do país em termos de avaliação do ambiente de trabalho. No entanto, com investimentos em cultura organizacional, liderança e bem-estar, as empresas locais podem se destacar e atrair talentos, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social da região.
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