Uma emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) com características inéditas foi o instrumento escolhido para impulsionar negócios ligados à bioeconomia no Brasil. O Santander Brasil, Grupo Gaia, Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus) e Belterra investiram na operação.
Emitido e distribuído pelo Grupo Gaia, e tendo o Santander como Coordenador líder, o CRA destinou R$ 17 milhões em capital de giro a 22 cooperativas comunitárias ligadas ao Conexsus, e à Belterra, startup que desenvolve sistemas agroflorestais. Trata-se de um CRA Verde inovador, pois fomenta diferentes atividades econômicas que ajudam a manter a floresta em pé e a regenerar áreas degradadas a partir do uso sustentável dos recursos naturais.
A Belterra já foi responsável pela implantação de mais de 1,8 mil hectares de agroflorestas e tornou-se um dos maiores produtores brasileiros de cacau, além de culturas como cupuaçu, banana, açaí e mandioca, em parceria com pequenos e médios agricultores. A Conexsus – Instituto Conexões Sustentáveis é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, que atua para ativar o ecossistema de negócios comunitários de impacto socioambiental, ampliando sua contribuição para a geração de renda no campo e para a conservação de florestas e biomas. No total, o título verde vai levar crédito a 4,5 mil produtores associados às cooperativas apoiadas pela Conexsus em todo o Brasil, com destaque para a Amazônia.
Neste primeiro momento, o investimento será direcionado ao extrativismo florestal sustentável, à agricultura familiar e à restauração de áreas degradadas por meio de implantação de Sistemas Agroflorestais para a produção de cacau, banana, mandioca, cupuaçu, pupunha e outras espécies.
Para reduzir o risco dos investidores e ao mesmo tempo viabilizar taxas reduzidas às cooperativas comunitárias, a emissão foi dividida em três níveis de cotas: sênior, mezanino e subordinada – sendo que as desta última categoria foram adquiridas por Conexsus e Belterra, utilizando recursos do Fundo Vale e da Good Energies Foundation. Ou seja, trata-se de uma operação de blended finance, que reuniu fundos de fontes diversas, com prazos de vencimento diferentes e taxas que variam de 3,3% a 15,75% ao ano (CDI + 2,1%). Essa estrutura tornou possível o repasse de crédito com juros de 12% a.a. aos produtores, que, em sua maioria, enfrentam dificuldades para levantar capital de giro e dar escala a suas atividades.
Em Minas Gerais, o CRA vai originar quase R$1,4 milhão em crédito, que serão divididos para cooperativas de pequenos e médios produtores de Arinos (R$ 100 mil), Bocaiuva (R$ 298 mil), Contagem (R$ 176 mil), Carangola (R$ 500 mil) e Montes Claros (R$ 300 mil).
“Conseguimos co-criar uma estrutura para o CRA Verde que viabiliza o uso deste instrumento no fortalecimento de negócios florestais e na geração de impacto socioambiental significativo, equacionando o retorno entre os vários parceiros da operação. Esperamos aprender com essa operação e futuramente explorar negócios com escala ainda maior e com uso de ativos de carbono”, afirma o head de negócios sustentáveis inovadores do Santander Brasil, Leonardo Fleck.
“A versatilidade, agilidade e o baixo custo da operação irá auxiliar produtores rurais na implementação de inovações tecnológicas, intensificação da produção, recuperação de áreas degradadas e práticas de agricultura de baixo carbono, aperfeiçoando a gestão de suas organizações e criando histórico de crédito para futuras operações”, diz.
“Não temos tempo a perder, investimentos de impacto são necessários. Ou o mercado financeiro muda e passa a investir com consciência, ou seguiremos fazendo greenwashing e destruindo o futuro da vida humana. Essa operação mostra que é possível mudar”, afirma o CEO do Grupo Gaia, João Paulo Pacífico.
“Um aspecto muito importante desta operação é o fato de estar inteiramente focada na geração de impacto socioambiental relevante. Desde sua modelagem, envolvendo fundos de impacto para subsidiar um crédito mais acessível, até a definição do público beneficiado. Todos os negócios contemplados estão operando dentro da floresta ou na restauração da floresta, trabalhando efetivamente para fomentar cadeias produtivas sustentáveis e desenvolver a bioeconomia brasileira a partir da floresta em pé”, reforçou o CEO da Belterra Agroflorestas, Valmir Ortega.
“O principal diferencial deste instrumento é assegurar que negócios comunitários consigam ter acesso à capital financeiro adequado ao seu negócio com taxas de juros formatadas para sua realidade, em conjunto com uma assessoria técnica ao desenvolvimento do negócio. São associações e cooperativas que estão na base das cadeias da sociobioeconomia. Apenas neste CRA serão beneficiados 22 produtos da sociobiodiversidade brasileira. A escala futura de instrumentos como esse pode e deve ampliar os negócios das centenas de associações e cooperativas que produzem de forma sustentável nos meios rurais e florestais, protegendo o meio ambiente, e gerando renda para milhares de extrativistas e agricultores familiares em todo o Brasil”, conclui a diretora executiva da Conexsus, Carina Pimenta.
Fonte: Diário do Comércio
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