Foodtech francesa investe R$ 15 milhões em fábrica de açaí voltada ao mercado global
- Redação
- há 2 horas
- 3 min de leitura
Empresa vai transformar município em base internacional de produção; projeto prevê 200 empregos até 2030

Movido pela antiga paixão pela Amazônia, o francês Damien Binois, fundador da foodtech Nossa!, confirmou a instalação da primeira fábrica própria da empresa no Brasil. O empreendimento será construído em Barcarena, na Região Metropolitana de Belém, e deve se tornar a base de produção global da marca, especializada em produtos de açaí para o mercado internacional.
Com investimento de R$ 15 milhões, financiado pelo Fundo de Biodiversidade da Amazônia (ABF), a nova unidade marca uma fase de expansão da startup, que há 13 anos opera na Europa e atualmente utiliza uma fábrica parceira em Marituba. O novo complexo industrial ficará localizado na PA-151 e será dedicado ao processamento de polpas e derivados congelados destinados à exportação.
A previsão é que a fábrica comece a operar em setembro de 2026, acompanhando a próxima grande safra do fruto. No início, serão 40 empregos diretos, com meta de chegar a 200 postos de trabalho até 2030.
Da pesquisa acadêmica ao empreendedorismo na Amazônia
O vínculo de Damien com o Pará começou em 2012, quando o francês desembarcou no Brasil para concluir o mestrado em Administração. A dissertação, dedicada aos gargalos da cadeia produtiva do açaí, o trouxe pela primeira vez a Belém. Ele estudou o tema ao lado de instituições como UFPA, Embrapa e UFRA, além de cooperativas extrativistas.
A pesquisa ampliou sua visão sobre o potencial do açaí como um produto de alto valor agregado, capaz de gerar renda às comunidades e incentivar a preservação ambiental. Foi também quando percebeu que o fruto era praticamente desconhecido na Europa — um mercado fértil para inovar.
“Eu me apaixonei pela região e entendi o potencial de preservação ambiental da produção de açaí. Percebi que era possível criar um modelo de negócios comprometido com as florestas e com as populações locais”, relembra o fundador.
Ao criar a Nossa!, Damien estabeleceu um princípio central: trabalhar apenas com produção familiar e áreas de manejo sustentável, evitando monoculturas e priorizando o comércio justo. Hoje, a empresa apoia 50 famílias de produtores, número que deve saltar para 600 até 2030.
Por que Barcarena? Porto, logística e expansão comunitária
A escolha por Barcarena não foi imediata. A empresa tentou instalar a fábrica em Curralinho, no Marajó, mas as dificuldades logísticas inviabilizaram o projeto. Barcarena surgiu como alternativa ideal devido a:
Proximidade com o Porto de Vila do Conde, utilizado pela empresa para exportações;
Infraestrutura mais robusta e logística estável;
Localização estratégica entre grandes polos produtores: Abaetetuba, Cametá e Igarapé-Miri;
Potencial para integrar produtores do próprio município à rede da empresa.
Damien afirma que moradores de Barcarena já demonstraram interesse em fornecer açaí para a foodtech. O único critério, segundo ele, é a sustentabilidade do manejo.
Licenciamento acelerado e início das obras
O projeto aguarda a licença de instalação, em análise pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMADE). A empresa já possui licença prévia e as plantas de engenharia concluídas. A intenção é começar a terraplanagem ainda em dezembro, antes do inverno amazônico, garantindo que a obra avance sem atrasos.
“Nosso objetivo é inaugurar a fábrica em agosto e iniciar as operações industriais em meados de setembro de 2026”, explica Damien.
Produção voltada ao mercado internacional
A unidade de Barcarena será dedicada à produção e congelamento de:
Polpa tradicional, média e grossa
Mixes para exportação
Sorvetes
Preparados para mercados nacional e internacional
Embora a Europa siga como principal destino, a empresa pretende expandir para América do Norte, Ásia, Oriente Médio e também ampliar presença no Brasil.
Bioeconomia, impacto social e visibilidade internacional com a COP30
A Nossa! atua com instituições como Emater, Embrapa, cooperativas amazônicas e WWFem programas de fortalecimento socioambiental. Segundo o fundador, o impacto vai além da compra do fruto, incluindo financiamento, capacitações e suporte às cadeias extrativistas.
Durante a COP30, realizada recentemente em Belém, a empresa ganhou destaque ao apresentar seu modelo de bioeconomia para organizações nacionais e internacionais.
“Explicamos ao mundo como a bioeconomia pode gerar renda e preservar a floresta. Ainda há muita gente que não entende que a Amazônia é habitada e precisa de soluções que tragam qualidade de vida às populações locais”, afirma Damien.
Conteúdo publicado originalmente no site Pará Web News


