A nova indústria do cacau: primeiros protótipos das fábricas começam a chegar à região em março; a Europa já está de olho nos produtos
Com recursos do BID, cientistas brasileiros preparam projetos-piloto de biofábricas da iguaria na Amazônia. As unidades portáteis permitirão processar cacau e semente de cupuaçu, transformando-os em produtos finos que já chamam a atenção no exterior.
O Brasil é o sétimo maior produtor de cacau no mundo, com produção aproximada de 200 mil toneladas por ano, um número aquém do seu potencial. Segundo especialistas, o cacau no Brasil não requer uma plantação artificial. O fruto nativo é “plantado por Deus”, brinca César De Mendes, chocolatier que é filho de mãe quilombola e pai ribeirinho. Ele é um dos inspiradores da produção de chocolate na Amazônia, uma das novas fronteiras do cacau no Brasil. Apesar de o fruto ser originalmente da região Norte, foi na Bahia e em estados nordestinos que ele se notabilizou. Agora isso está mudando.
Nascido em Macapá (AP) e criado em Belém, De Mendes é um dos maiores incentivadores dessa nova vertente. Ele é um dos precursores do projeto de biofábricas móveis do Instituto Amazônia 4.0, que visa a fomentar uma nova bioeconomia na floresta amazônica pelas mãos de comunidades ribeirinhas, indígenas e povos tradicionais, que colhem ou plantam o cacau em sistema de agrofloresta para produzir um chocolate com “terroir” amazônico.
Os primeiros protótipos das fábricas começam a chegar à região em março. “O cultivo principalmente nas lavouras cacaueiras aqui no Pará vem crescendo, melhorando bastante a questão da qualidade, e isso é um ponto muito interessante para a compreensão e a percepção de valor no mercado”, diz De Mendes. Estudo da Embrapa e instituições parceiras comprovou que a expansão sustentável do cacau tem sido benéfica para a Amazônia, integrando geração de emprego e renda à preservação da floresta. O Pará já se tornou o maior produtor desse fruto no País, gerando R$ 1,8 bilhão de receitas — 51% do total nacional.
Já se sabe que atualmente há cerca de duas mil espécies nativas na região amazônica, sendo três os tipos mais conhecidos: o forasteiro, o crioulo e o trinitário. Cada um deles proporciona um sabor diferente nas receitas, o que tem atraído os olhares dos chocolateiros no mundo todo. “O cacau amazônico acabou sendo mais atrativo dentro desse novo cenário do chocolate de ‘terroir’, porque ele traz esse fator exótico da floresta. Esse cacau tem um potencial muito grande, mas ainda é um desafio”, afirma Bruno Lasevicius, presidente da Associação Bean to Bar Brasil.
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