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A Resiliência Do Mercado De Arte Contemporânea Em 2021


A Resiliência Do Mercado De Arte Contemporânea Em 2021
Marcos Vinícius Rego

“A elite é quem compra arte e é quem menos sofreu com a pandemia”


2020 encerrou trazendo muitas incertezas para o ano seguinte, 2021 era visto por muitos como um ano de insegurança e cautela, as projeções mostravam estagnação em vários setores e, até mesmo os mais otimistas, não acreditavam em crescimento econômico considerável. No entanto, o mercado de arte moveu-se contrariamente a qualquer projeção e surpreendeu ao bater recordes enquanto muitos setores timidamente ainda tentam se reerguer.


Segundo uma estimativa da corretora de seguros americana Aon, uma das maiores do mundo, o mercado de arte movimentou US$ 64,1 bilhões em 2019, queda de 5% ante o ano anterior. Uma estimativa do banco suíço UBS confirma esses dados, e indica uma baixa de 22% em 2020, para cerca de US$ 50 bilhões. Boa parte da retração no ano passado deveu-se ao fechamento das casas de leilão, que intermediaram 37% dos negócios fechados no ano anterior. 2021 mostrou que a arte contemporânea teve o melhor desempenho no segmento de arte, alcançando um crescimento de 50% no primeiro semestre de 2021 em relação ao primeiro semestre de 2019, enquanto que a arte moderna e pós-guerra caíram 8% e 4% retrospectivamente. Já as vendas de arte ultracontemporânea (que pode ser definida por trabalhos feitos por artistas nascidos a partir de 1975) aumentaram cerca de 142% de 2019 a 2021, ou de US$ 35,7 milhões para US$ 86,7 milhões.


A Resiliência Do Mercado De Arte Contemporânea Em 2021
Leilão de arte ultracontemporânea da Phillips em Londres, outubro de 2021 (Thomas De Cruz Media)

Segundo o relatório anual da Artprice (banco de dados de preços de arte on-line francês criado em 1987 por seu agora CEO Thierry Ehrmann), o mercado de arte contemporânea arrecadou US$ 2,7 bilhões em vendas entre junho de 2020 e junho de 2021, sendo o fator determinante a incorporação do virtual nos processos de venda das obras, os chamados “leilões online”. Um fator interessante nessa nova realidade é a mudança no consumo das obras, sendo que os tipos de obras mais vendidos justamente aqueles mais fáceis de retratar no formato digital, o que pode ser notado na fala do CEO do Artprice, Thierry Ehrmann, no prefácio do estudo: “A fotografia e as impressões foram particularmente bem-sucedidas neste novo ambiente online e em 2021, ainda segundo Ehrmann: “Vimos [também] a chegada sensacional de obras de arte completamente desmaterializadas, os famosos NFTs.” Esculturas, no entanto, diminuíram em demanda.


Os NFTs já representam 1/3 das vendas on-line ou 2% do mercado de arte em geral, atraindo a atenção de um público cada vez mais jovem e globalizado ao mercado. Segundo a Christie’s (casa de leilão britânica), 22 milhões de pessoas se inscreveram para testemunhar a primeira venda pública de um NFT (The First 5,000 Days - 2021), sendo que 60% cento delas tinham menos de 40 anos de idade. Outro fator decisivo para o impulsionaremos do crescimento do mercado foi o aumento do consumo de artes contemporâneas na Ásia, este ano, a China por exemplo, foi responsável por 40% das vendas em leilão, enquanto que os Estados Unidos foi responsável por 32%.


No Brasil, o resultado é ainda mais impressionante, haja vista que enquanto o mercado de arte mundial ainda mostrava certa retração durante o ano de 2020, o mercado brasileiro foi um dos primeiros a apresentar um crescimento rápido e consistente. Um estudo feito pela “arte!brasileiros” e que contou com cerca de 15 entrevistados (grandes galerias, profissionais do mercado e estudiosos), mostrou que o ano de 2021 foi melhor que o ano de 2019 e se equiparou aos anos de 2014 e 2015 (período de grande euforia no mercado nacional de arte). O estudo aponta que o que levou a tais resultados foi o fato de que “o maior tempo passado dentro de casa e a diminuição com outros tipos de gastos, como viagens e restaurantes, incentivaram as pessoas a comprar mais obras de arte para seus ambientes privados; a migração dos negócios para o ambiente virtual aproximou uma parcela de compradores mais jovens, menos acostumados aos ambientes de galerias e feiras e bastante inseridos no mundo online; além disso, a criação de projetos de parcerias entre galerias, antes raros, e uma experimentação com novos formatos de venda trouxeram resultados. Isso tudo considerando, é claro, que “a elite é quem compra arte e é quem menos sofreu com a pandemia”, como destacou a avaliadora e consultora de mercado de arte Tamara Perlman ao fim de 2020” (arte!brasileiros, 2021).


Esses fatores não apenas garantiram as vendas como também permitiram a redução dos custos de galerias com mostras e exposições, aumentando assim a lucratividade. E essa diminuição de custos não para por aí, antes da pandemia a participação em feiras internacionais garantia até 50% do faturamento anual das galerias, sendo que a participação em tais eventos era caríssimo e com o aumento do dólar e euro, participar dessas feiras ficou ainda mais caro, hoje, tais eventos representam apenas 13% das vendas das galerias e diversos galeristas no Brasil e no mundo apontam que essa diminuição na dependência das feiras pode ter vindo para ficar. Segundo reportagem do The Art Newspaper, só em 2019 aconteceram 178 feiras de arte paralelamente a bienais ou trienais e às exposições de museus e galerias. “É um sistema predatório. Não há casa que consiga bancar financeiramente todo esse investimento”, compartilha André Millan. “Quando você para um pouco, percebe que não fez nenhuma feira [em 2020] e continuou vendendo bem, aí você se pergunta: será que realmente preciso fazer tudo isso?”, indaga Roesler.


As previsões para o futuro do setor apontam para um movimento que já vinha sendo notado nos últimos anos mas que a pandemia acelerou e solidificou, trata-se da entrada de novos consumidores no mercado de artes, formados por um público mais jovem, alguns dispostos a ter uma postura mais “ativista”, outros interessados em fazer negócios. Este movimento, verificado globalmente, inclui especialmente os chamados millenials – geração que tem hoje entre 20 e 40 anos -, como mostra a pesquisa da Art Basel e UBS: “A mudança para o digital trouxe melhorias na transparência de preços, acesso a informações e aos artistas. A redução das barreiras de entrada no mercado permite o desenvolvimento de uma base mais ampla de novos colecionadores em diferentes níveis de preços”, diz o relatório.

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